terça-feira, 24 de janeiro de 2017

SEM TÍTULO (O ODOR DAS MÃOS)

O odor das mãos
Permanece no alimento.
Acabo me alimentando
Do odor de suas mãos.
O alimento – que sobra –
É a sobremesa do seu odor,
E a maciez de seus dedos
Influi na textura
Do que sobrou
E não mais sobra.
Toquei o lenço
Para limpar a boca
E confundi
Com de um de seu dedo
A frágil dobra:
O odor, a maciez.
Encontrei o outro lenço.
Me limpei, mas ainda
Havia a maçã,
Que também confundi
Com sua boca
Que o amor cobra.
Boca e maçã,
Mordi e beijei,
Suculenta e langorosa,
Pois não há análise
Que me impeça
Tal síntese saborosa.

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