domingo, 5 de julho de 2015

COTIDIANO

Bebo o sangue de Cristo
No ketchup do McDonald’s.
Como freira, uma atriz pornô
Em um cartaz no fundo da locadora
(Já almocei a missa),
Ri de Alain de Botton.
Um cão invisível late
E eu mais vejo do que ouço o som.
Uma atmosfera amorosa
Atravessa a calçada com pressa
E se concentra, talvez para sempre,
No bolso da calça
Da menina de cabelo azul.
Azul que compensou a falta dele no céu.
Minha cota de cotidiano
Escorre um pouco com água
Para um bueiro.
Observo a polícia na rua, azulada.
Mas há quase só milícia.
Algo no dia me alicia.
Alguém cita UPP e entendo PCC.
Isto é sono.
É delicioso sentar na praça,
Ao sol, lagartinando,
Quando se está com algum sono.
(Sou muito provinciano.
Não quero “vencer” na vida.
“Vencer”, às vezes, é perder muito).
Minha visão de mundo é estética,
E no meio da província.
Muitos mentem sobre o sexo.
A biologia, por exemplo.
Gosto de acrescentar um tom
Meio ridículo em muito do que faço.
Uma suave auréola coroa uma árvore
Algo desmembrada.
Uma bailarina enlouquece na rua.
Sua dança desangula o dia
Em seu mecanismo dito neutro.
Vejo a barriga de uma grávida
Com olhos de membro de grupo
De Charles Manson e imagino
Quanto o filho será parecido com a mãe.
Terá de ter linhas tênues,
Como aquela linha de lã
Que traça o horizonte... 

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