quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pávido pavão
Se apavorou com as próprias cores.
Seu pesadelo é cromático
E o persegue aonde vá
Pavonear seus estranhos temores.
Belo pesadelo vivo, o horror da cor
O estonteia, o mortifica.
Já não quer atrair as fêmeas,
Já não quer exibir
Sua vasta inutilidade seletiva.
Parvo Pavo, Argos
Temente ao seu próprio panóptico
De ocelos, como se algo
O tivesse arrependido.
Subjugado pela autorreferência,
Seu tormento autotélico
O faz mais belo,
Sua agrura mais ressalta
Sua beleza a cada sobressalto,
A cada desventura de desvairada ave
Ao tentar um salto
Da própria colorida e suave torre de marfim;
Mas ao invés de descer mais iridesce
Sua exuberância que mais a estremece.
O pavão, tão belo,
Desconhece a natureza da beleza,
O pavor que ela carrega e exibe,
O imprevisível, este susto incompreensível
Que se abre e devora tudo.
Ou talvez ele saiba muito;
Saiba que a beleza
É o pavão apavorado,
O susto que quanto mais assusta
Mais se exibe exaltado.

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