quinta-feira, 12 de setembro de 2013

ANALOGIAS

Em El Salvador, nos anos 80,
Um preso político foi violentado
Por uma fila de soldados durante dias.
Em alguma rua perto da minha
Uma mulher
(Teoricamente livre e suficientemente politizada)
É violentada por um grupo de jovens
Em dia de farra.
Em El Salvador e aqui
O sangue vazou como água.
Talvez 80 homens ou mais
Fiquem excitados logo ao ler este poema,
Assim como os soldados
Dos anos 80.
Em El Salvador não houve,
Como aqui também não,
Salvação perante a fila imensa,
E à mulher ainda foi transmitida
Uma doença
E uma gravidez que uma bancada evangélica
Quer que permaneça.
No momento em que escurece um pouco na mente
Esta relação analógica,
Outra lógica anal assume a atenção:
A atriz sorri dolorida para a câmera
Enquanto o ator administra
A abertura do espéculo.
O retira e em um lapso
A câmera dá close no prolapso.
Por efeito de alguma perturbação em minha mente,
No momento em que o ator iria lambê-lo,
O prolapso, negando qualquer costura futura,
Salta da atriz e o estrangula,
Coberto de sangue e pus
Como em um filme B.
A atriz, que estava grávida,
Morre parindo o bebê,
Que rasteja até o prolapso,
Que por sua vez se enrola nele com carinho
Como um novo cordão umbilical
Que não quer se cortar.
O bebê se sente aconchegado
No resto das fezes do prolpaso
(A atriz não tinha feito direito o enema)
E para de chorar.
Ele olha para a câmera e o filme termina.

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