sábado, 3 de agosto de 2013

Sou um animal,
Ou há um animal devorando minhas vísceras
E sua cabeça surgirá
No pó das ruínas de minhas costelas.
Racionalizo isto
E habito isto no discurso
Com a frieza de quem tem consciência
De que ser um animal
É se saber um animal e o representar.
Porém esta razão é também temor,
Há medo na razão:
Sou um animal que com colher e faca
Come sua ração.
Meu discurso se teme,
Há temor e tremor no coração
Do discurso maquiado de conceitos.
Sou um animal sagrado, ritualístico,
Habitado no discurso,
Esclarecido e obscurecido na razão.
A razão de tudo isto também é obscura.
E tudo isto sei com a confiança de saber
E com o temor de não saber,
O temor de que a cabeça do animal
Destrua minhas costelas.
A cerimônia do sexo,
O ato da alimentação,
O encontro com a multidão
Me dão confiança e medo, fé e temor.
Sou um homem de fé perturbada,
Um homem fera,
Sentindo que a biologia vocifera
E que minha consciência
Se fortalece perante um ataque
Do meu lobo, da minha matilha.
A existência exige, então, uma estética,
Uma ética que também é ékstasis.
O homem fera é homem arte,
Cultua sua cultura,
Tem consciência disto perante
A própria inconsciência em alerta
E pensa, crê, teme, treme, ama... fala.
Falo mesmo no discurso que meu lobo cala.
Banho o suor nos meus pelos...  

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