domingo, 21 de abril de 2013

NOITE PROVINCIANA

À noite a cidade é melancólica.
As coisas perdem a falta de amor
Mas também não adquirem amor algum.
Há sempre um amor à espera.
Mas de esperar já raiou o dia.
Todavia há na noite uma condição de eternidade:
A eterna melancolia das coisas.
As coisas sem uso são o resto do mundo,
O resto acumulado no mundo.
Este resto é revelação,
Que é o impreciso, o vago, o inexplicável.
As coisas paradas não tem explicação,
Sua justificativa se posterioriza,
E na noite seu mistério se mantém, eterno.
Se uma mulher passa nesta noite
Penso que só pode ser a encarnação
Do mistério das coisas.
Por isto vaga, imprecisa e inexplicável.
Eu sempre a deixaria errar
Pois nunca a alcançaria.
Mas gostaria de vê-la sumir na sombra da esquina:
Sentir esta doce e terrível melancolia,
Sempre nova, sempre eterna.
Do dia nada se espera.
É à noite que, ainda mistério,
O escondido se revela. 



2 comentários:

Hercília Fernandes disse...

Adoro este poema, Bonfá.
Um dos melhores que tive o prazer de ler em 2013.
Beijos,
H.F.

Marcelo R. Rezende disse...

Poema sensacional.
Chegou a doer a viagem que ele me fez fazer.