quinta-feira, 12 de agosto de 2010

... É preciso contar esta história. De alguma forma. Algum dia ela será contada. É que ele era um menino especial e o que é especial precisa ser contado, apesar de não sabermos ao certo o motivo. Em uma aula... Ele era especial sempre, mas em uma aula... Ele tinha nove anos. Mas ele tinha essa idade somente em uma aula. Em outras, não. Em certa aula... Ele sempre era admirado. Brincava com os amigos de coisas... esquisitas. Que chamavam a atenção. Tirava coelho de cartola, coelho usando uma cartola menor. Invocava chuva de borboletas à noite, chuva de mariposas de dia. Nesta aula, o professor fez um círculo com as carteiras (método desnecessário) para promover um exercício de classe. De repente, com nove anos, ele levitou. Os colegas adoraram. O professor se enervou, mas ele se centrou na sala e sonhou que era o sol... Ele não era mágico...

... ele se casou com uma beleza estranha. Sua mulher era boa, mas quase transparente. Parecia um mapa, pois as veias assomavam por todo seu corpo. Era tão magra... Ele cresceu normal, amadureceu além dos nove anos, apesar de ainda levitar e sonhar que era o sol. Ela era tão branca... Na realidade, agora ele sonhava mais calorosamente em ser o sol. Ela era tão magra que andava tão curvada que parecia que ia quebrar. Mas não lembrava vidro, apesar de sua fragilidade e tendência transparente. O sol refletia no vidro de forma mais bela... Mas ela era uma mulher boa...

... É uma bela história, na realidade. E precisa ser contada... Ele morreu de forma especial também. Mas teve filhos. A mãe deles tinha olhos roxos, irisados. Eles, não... Mas também morreram. E de encontro ao arco-íris. Confundiram metal dourado com o sol... Não me recordo como ele morreu, apesar de ter sido de forma especial. Talvez por isto também a história precise ser contada. Eu não compreendo porque ela não foi contada... Eu não compreendo. Ele compreendia tanta coisa, e quase nunca se pronunciava. A mulher morreu de leucemia. Quantas manchas... Que mapa terrível. Mas sua beleza não desvaneceu. Só se tornou mais estranha...

... Eu queria contar esta história, mas não compreendo tanta coisa... Acho que ele tinha nove anos em uma aula. E, com certeza, em algum lugar, havia um sol...

Nenhum comentário: